Já não sustento nenhum dos meus vícios
Me tiraram aquele tumor da alma
E no lugar ficou uma buraco vazio
-Uma pena!
Aquilo era o que me preenchia
Todo resto de mim é nada
Esqueceram de me dar um tapa por ser egoísta
E olha que esse é meu esporte favorito
Nunca acharam bonito
Minha inveja podre de todos os dias
Aliás, nunca acharam nada bonito
Nem os poemas, nem o canto desafinado
Nem os desenhos malfeitos
Ou qualquer outro detalhe tão trabalhado
Dessa inconveniente mediocridade
Depois levaram quem me amava
Do meu verso mais afável
A minha crueldade mais desumana
Deixando ao redor esses poucos
Que não ousam atravessar a bolha
Esses que não aguentariam,
Nem à base do café mais forte,
Os dias em que acordo atravessado
E revoltado com questões inúteis
O que resta de mim é uma criança
Com um boletim nas mãos
Procurando um pai, um irmão, a babá
Que lhe cole uma estrela na testa
Pelo único azul em matemática
(Um seis e meio que arredondaram pra sete)
Uma criança dentro do adulto perdido
Que por medo, por vergonha ou por sina
Escreve qualquer coisa num livro
Antes de dormir infinito
Ou até parar a função soneca do aparelho emprestado
Saindo de casa atrasado- e sozinho.