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4 de fevereiro de 2013

Por um fio

Era uma porta como milhares de outras portas que existem por aí. Era uma porta ali na frente, prestes a ser aberta, usada, fechada.  Era o que se espera de uma porta.
Olhei de cima a baixo, de um lado ao outro, da maçaneta à dobradiça. Reparei detalhes talhados na madeira que por algum motivo me lembraram fatos da minha vida.  Eram várias linhas desenhadas. As linhas  mudavam seus cursos, eram retas e curvas. Eram compridas e curtas. Estreitas e largas. Confusas. Distantes. Mas em algum momento caminhavam para a mesma direção, mais na frente se uniam, e no final terminavam em apenas um fio...
E comecei a pensar em tudo, encaixar cada detalhe um no outro: minha vida estava ali! Estava desenhado o caminho, revelado o mistério. As lembranças que vinham ardiam, queimavam e chegavam cada vez mais perto. A porta estava ali: era uma porta, apenas uma. Eu senti uma agonia, um desespero, um tumulto. Eu precisava atravessar, mas a porta não se abria. Ela queria me dizer algo: se tudo havia se encaixado, se tudo fazia sentido, então é porque a vida estava por um fio. E então eu apaguei, pisoteada pelas lembranças, sufocada pela resposta, na frente da porta. E no último suspiro acordei!
Disse a ele que havia sonhado com uma porta.
- Uma porta? Como era?
Era uma porta como milhares de outras portas que existem por aí.