Não há claridade. Entre mim e a
realidade já houve muito menos dessa poeira sufocante. Hoje eu tusso, e tossiria
ainda que não tivesse voltado a fumar. Inclusive, voltei a fumar e a me
movimentar. Essa contradição que faz meu pulmão pedir arrego e que me faz ter
um troço estranho quando estou correndo, essa tontura que dá quando respiro
fundo é que me faz acreditar em estar vivo. Porque no mais existem sombras de formas
duvidosas atrás das nuvens, atrás dos pensamentos e do TIC TAC eterno que ecoa
nas paredes do meu crânio. Como se o trem fosse passar e eu não tivesse feito
as malas, uma vida de passagem comprada e de brinde um eterno atraso. Antes de
dormir as horas que tenho de sono estão contadas, durmo agora que é pra acordar
disposto. Mas não adianta, meu travesseiro é um playground onde cada minuto
brinca e ri da cara de quem já está
sonhando, mas os olhos nem piscam. Tudo que eu preciso é que um caminhão invada
a casa e passe em cima da minha cama. Essa ideia da dor de verdade, da angústia
de verdade, da inveja, do ciúme, da saudade, do desespero não saem da minha
mente. Mas tudo que sinto é o que não
sinto. Estou vazio. Raras vezes, de surpresa, vem o medo me fazer cócegas. Nesses dias a história de comer até não aguentar meu peso nem funciona, já que meus pés não
reagem. Por isso é que estou doente. Por isso a falta do ar que não faltou, a
taquicardia paralítica, a náusea sem vômito. Porque meu corpo precisa compensar
tamanha inutilidade desse epitáfio iminente. Por isso me caem os cabelos, o
sorriso e os desejos. Só não cai a ficha de que estou pouco velho pra muito
louco.
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16 de novembro de 2015
31 de agosto de 2015
Por um tapa
Já não sustento nenhum dos meus vícios
Me tiraram aquele tumor da alma
E no lugar ficou uma buraco vazio
-Uma pena!
Aquilo era o que me preenchia
Todo resto de mim é nada
Esqueceram de me dar um tapa por ser egoísta
E olha que esse é meu esporte favorito
Nunca acharam bonito
Minha inveja podre de todos os dias
Aliás, nunca acharam nada bonito
Nem os poemas, nem o canto desafinado
Nem os desenhos malfeitos
Ou qualquer outro detalhe tão trabalhado
Dessa inconveniente mediocridade
Depois levaram quem me amava
Do meu verso mais afável
A minha crueldade mais desumana
Deixando ao redor esses poucos
Que não ousam atravessar a bolha
Esses que não aguentariam,
Nem à base do café mais forte,
Os dias em que acordo atravessado
E revoltado com questões inúteis
O que resta de mim é uma criança
Com um boletim nas mãos
Procurando um pai, um irmão, a babá
Que lhe cole uma estrela na testa
Pelo único azul em matemática
(Um seis e meio que arredondaram pra sete)
Uma criança dentro do adulto perdido
Que por medo, por vergonha ou por sina
Escreve qualquer coisa num livro
Antes de dormir infinito
Ou até parar a função soneca do aparelho emprestado
Saindo de casa atrasado- e sozinho.
Me tiraram aquele tumor da alma
E no lugar ficou uma buraco vazio
-Uma pena!
Aquilo era o que me preenchia
Todo resto de mim é nada
Esqueceram de me dar um tapa por ser egoísta
E olha que esse é meu esporte favorito
Nunca acharam bonito
Minha inveja podre de todos os dias
Aliás, nunca acharam nada bonito
Nem os poemas, nem o canto desafinado
Nem os desenhos malfeitos
Ou qualquer outro detalhe tão trabalhado
Dessa inconveniente mediocridade
Depois levaram quem me amava
Do meu verso mais afável
A minha crueldade mais desumana
Deixando ao redor esses poucos
Que não ousam atravessar a bolha
Esses que não aguentariam,
Nem à base do café mais forte,
Os dias em que acordo atravessado
E revoltado com questões inúteis
O que resta de mim é uma criança
Com um boletim nas mãos
Procurando um pai, um irmão, a babá
Que lhe cole uma estrela na testa
Pelo único azul em matemática
(Um seis e meio que arredondaram pra sete)
Uma criança dentro do adulto perdido
Que por medo, por vergonha ou por sina
Escreve qualquer coisa num livro
Antes de dormir infinito
Ou até parar a função soneca do aparelho emprestado
Saindo de casa atrasado- e sozinho.
3 de maio de 2015
Direito ao silêncio
(...)
A noite é a parte mais difícil. A nitidez do sol , que a tudo faz enxergar sem medo, cede espaço ao escuro com suas portas abertas a claras imaginações. Se enxergar com os próprios olhos é um risco, ver com as asas da mente é um passo em direção ao abismo. E o silêncio que repousa sobre todos os corpos semi-mortos do fim do dia é um convite eterno para que eu devolva as palavras que não pude digerir. Quando o corpo já não agüenta e a mente não lhe dá uma trégua- em sua luta incansável pra me fazer perder a linha- me resolvo em segredo. Entre os dedos já trêmulos, minha caneta brinca, e desenterro da minha mente conturbada tudo o que está retido- perde-se apenas o que se dissolveu- transformado em tinta invisível para a maioria dos meus. A lua que se vale de algum brilho para ser vista à noite, enorme e alva, me acena lá de cima, para me batizar na poesia das almas cegas, da mudez do dia, das confissões noturnas.
Eu tenho um corpo calado, e uma alma que assopra clichês nunca lidos.
A noite é a parte mais difícil. A nitidez do sol , que a tudo faz enxergar sem medo, cede espaço ao escuro com suas portas abertas a claras imaginações. Se enxergar com os próprios olhos é um risco, ver com as asas da mente é um passo em direção ao abismo. E o silêncio que repousa sobre todos os corpos semi-mortos do fim do dia é um convite eterno para que eu devolva as palavras que não pude digerir. Quando o corpo já não agüenta e a mente não lhe dá uma trégua- em sua luta incansável pra me fazer perder a linha- me resolvo em segredo. Entre os dedos já trêmulos, minha caneta brinca, e desenterro da minha mente conturbada tudo o que está retido- perde-se apenas o que se dissolveu- transformado em tinta invisível para a maioria dos meus. A lua que se vale de algum brilho para ser vista à noite, enorme e alva, me acena lá de cima, para me batizar na poesia das almas cegas, da mudez do dia, das confissões noturnas.
Eu tenho um corpo calado, e uma alma que assopra clichês nunca lidos.
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